¿Será posible el Sur? América do Sul: integração e autonomia no contexto de globalização, 1990-2015
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Latitud Sur N° 11, Año 2016. CEINLADI, FCE-UBA. ISSN 1850-3659.
clássico modelo de Estado nacional que se formou na Europa nos séculos XVIII e XIX e que
foi copiado em outras partes do mundo encontra-se sob duplo ataque. A perda de soberania
manifesta-se através do processo de transcendência, isto é, pelo deslocamento do mundo
vivenciado pelos sentidos para o simulado, o mundo virtual da tela do monitor. Por outro
lado, o estado perde também em relevância devido a muitas outras soberanias (Menzel,
1998), particularmente a do mercado financeiro. Segundo Romero (2014), a globalização é,
em primeira linha, ideologia que legitima uma ordem social, que se poderia distinguir em
termos políticos e econômicos, antes de ser um conceito de análise para conhecer os
fenômenos de nossa realidade social. O autor constata que “a chamada globalização foi um
termo muito importante nos anos 1990, que sustentou o domínio econômico do chamado
neoliberalismo em grande parte do mundo e, em especial, na América Latina” (2014, p. 1).
Já Ibarra (2011) considera a globalização neoliberal uma das transformações históricas de
ordem econômica internacional, as quais se expressariam sucessivamente no regime colonial,
no padrão ouro, no acordo de Bretton Woods e na supressão atual das fronteiras comerciais.
O citado autor reconhece que existem, evidentemente, em todos esses esquemas distintos,
“relações de dominação entre os países centrais e a periferia, mas também há acordos
indispensáveis para a convivência pacífica e a ordem das transações econômicas entre
nações” (2011, p. 1).
Desse modo, a globalização impulsionaria e internacionalizaria diferentes dimensões da vida
em sociedade, assim como uma crescente interdependência entre as nações e, sem dúvida,
criaria um cenário internacional que contrairia o espaço para a ação do Estado, o qual atuaria
com autonomia mais limitada. Nesse contexto, a globalização estimularia a formação de
blocos de integração regional. O Estado deles participaria visando se fortalecer com o
objetivo de incrementar seu poder de negociação na cena internacional e melhor se colocar
no mundo globalizado. Ou seja, o regionalismo seria uma estratégia correlata ao fenômeno
globalização. Quanto à análise sobre a integração regional, Pierre Salama (1996) argumenta
o inconveniente de discutir a integração sem considerar a história. Advoga, ainda, ser o livre
comércio e o protecionismo objetos de numerosas teorizações, não sendo este o caso da
integração; já que esta é um compromisso entre o liberalismo e o intervencionismo.
É notório, assim, que a globalização com integração dos mercados evoque a sobreposição de
cenários: nacional, regional e internacional, muitas vezes com interesses divergentes. A
integração internacional promovida pela globalização coincide com a formação de certos
organismos supranacionais com destaque para os blocos econômicos surgidos nos anos 1990
e a implementação dos postulados neoliberais com suas propaladas posições de diminuição
do Estado, isto é, de estado mínimo. Os blocos regionais e as nações veem-se defrontados,
nesse contexto, com a lógica do capital global, a preconizar a liberalização de fluxos
financeiros, a mobilidade de capital e tecnologia e a internacionalização das redes de
produção, as quais incorporam diferentes empresas em um mesmo projeto global. Desse
modo, o Estado cede parte de sua autonomia a outras instâncias.
Embora o conceito da categoria autonomia, como lembram Vigevani e Ramanzini (2014, p.
517), “admite diferentes abordagens em função da configuração do sistema internacional em
um determinado período histórico, bem como das visões de mundo da população e das
elites”, prevalece, mesmo nos dias atuais, em termos do conceito político, a noção da
capacidade de os países elaborarem suas próprias leis e regras, sem interferências de
terceiros; enfim, de decidirem suas escolhas. Alguns estudiosos defendem a tese que postula