Covid-19 e federalismo brasileiro: conflitos verticais e cooperação horizontal entre os entes federados
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Latitud Sur N° 17, Vol. 1, Año 2022. Universidad de Buenos Aires, Facultad de Ciencias Económicas, Centro
de Investigación en Estudios Latinoamericanos para el Desarrollo y la Integración (CEINLADI). (En línea)
ISSN 2683-9326.
A iniciativa pretende atrair investimentos e alavancar projetos de forma integrada, articular
pactos de governança, realizar compras conjuntas, implementação de políticas públicas e a
busca por cooperação, também em nível internacional (Consórcio Nordeste, 2020). O
Consórcio Nordeste é o primeiro no Brasil a representar relações intergovernamentais
ancoradas na horizontalidade (Clementino et al., 2020). A Lei nº 11.107, de 6 de abril de
2005, conhecida como lei dos consórcios públicos, é uma das primeiras iniciativas brasileiras
que tenta propiciar as relações intergovernamentais e a construção de relações horizontais
entre os entes subnacionais (Fernandez & Pinto, 2020).
Na segunda reunião realizada pelo Consórcio em março de 2020, período em que casos de
Covid-19 foram confirmados na região, os estados membros deram início à organização de
comitês, os quais eram responsáveis pelo monitoramento, acompanhamento e orientações
aos seus respectivos estados (Santana et al., 2021). As orientações dos comitês estaduais a
seus governos de forma síncrona, resultaram em uma onda de decretos e medidas de
distanciamento social coordenadas, a fim de reduzir a disseminação do vírus (Santana et al.,
2021). Mesmo diante da complexidade da atual crise sanitária, de disputas ideológicas e
científicas, todas as decisões na Assembleia dos Governadores do Consórcio Nordeste, foram
tomadas por consenso, o que ressalta a cooperação e a coordenação horizontal na região
(Fernandez & Pinto, 2020).
Clementino (2019) afirma que a cooperação é favorecida pela identidade regional, a qual é
compartilhada pelos estados do Consórcio desde 1950, quando foi criada a Superintendência
do Desenvolvimento do Nordeste (SUDENE), portanto existia, previamente, uma articulação
entre os estados. De acordo com Santana et al. (2021), o protagonismo e a cooperação
existente no Consórcio do Nordeste também são resultados da oposição da maioria dos
governadores da região ao governo federal e à filiação destes à partidos de centro-esquerda.
Em 30 de março de 2020, o Consórcio tomou a principal iniciativa no combate à pandemia,
criou uma frente técnico-científica regional, o Comitê Científico de Combate ao Coronavírus
do Consórcio Nordeste, com a finalidade de monitorar o contexto local, o que indica o esforço
do Consórcio em acompanhar, de forma sistêmica, a evolução e impactos da pandemia nos
estados membros (Santana et al., 2021). O Comitê Científico tem como missão reunir
informações para orientar e articular as ações dos estados e municípios para o combate à
pandemia através de boletins em seu portal oficial (Comitê Científico, 2021).
Através do Consórcio, foram comprados, coletivamente, insumos para o enfrentamento à
doença, tais como medicamentos e respiradores. Também foram implementadas estratégias
de acompanhamento de cidadãos contaminados e monitoramento da progressão da doença,
orientações, apoio técnico e apoio às decisões relacionadas ao isolamento social, medidas de
redução dos efeitos sociais da pandemia, ações de saúde pública, restrição de tráfego nas
rodovias, realização de barreiras sanitárias, integração de redes de pesquisa e de
desenvolvimento tecnológico, além de outras medidas (Fernandez & Pinto, 2020).
Tanto como o Fórum dos Governadores, o Consórcio Nordeste solicitou à União respostas
técnico-científicas e econômicas mais assertivas, além de se reunir com o presidente em 23
de março de 2020 para a discussão da Covid-19, no entanto, o presidente se posicionou
contrário às medidas de combate à pandemia e o governo federal deu poucas e inconstantes