Revista Interdisciplinaria de Estudios Agrarios Nº 49 | 2do. Semestre de 2018
(2012), isso representou a desestruturação do projeto de modernização
conservadora da agricultura concomitantemente à consolidação do pac-
to virtual entre cadeias agroindustriais, grande propriedade fundiária
e Estado que garantiu a inserção do capital financeiro na agricultura a
partir do período final do regime militar.
Como resposta à crise, medidas de ajustamento econômico ex-
terno escalaram as commodities do setor primário para tentar equali-
zar a balança comercial. Com os elevados investimentos na agricultura
realizados nas décadas anteriores e com o aumento da seletividade do
crédito rural para garantir o financiamento das principais commodities
agrícolas, tais medidas, que a princípio seriam conjunturais, permane-
ceram como solução emergencial até o início da década de 1990, como
mostrado por Delgado (2012).
No entanto, com a abertura comercial do país e, mais especifica-
mente, com a implantação do Plano Real em 1994, abandona-se a polí-
tica de promoção das exportações, com a crença de que a liberalização
comercial e financeira da economia resolveria pelo mercado o problema
crônico da dependência dos recursos externos (Delgado, 2012). Com a
significativa queda nos preços das commodities que se seguiu, o comér-
cio exterior do país passou de superavitário para deficitário. Note-se que
o Plano Real, ao sustentar artificialmente a taxa de câmbio no patamar
do dólar norte-americano, determinava a marginalidade dos estabeleci-
mentos agrícolas de grande porte no modelo econômico.
Somente a partir de 1999 o setor primário-exportador passou a
ser novamente escalado para equilibrar a balança de pagamentos. Para
Delgado (2012), a eliminação da sobrevalorização do real em 1999 e o
aumento da demanda internacional por commodities determinaram as
bases materiais para a conformação de uma nova aliança na economia
e política agrária, a qual o autor denomina “pacto do agronegócio”. Nos
governos que se seguiram, foram várias as medidas que progressiva-
mente reforçaram a prioridade da exportação de commodities agrícolas:
investimentos em infraestrutura; fortalecimento da Embrapa; afrouxa-
mento na regulação no mercado de terras; crédito rural cada vez mais
abundante (financiamentos com juros abaixo da inflação, garantia de
preço, formação de estoques, renegociação de dívidas, etc.); entre ou-
tras. Para Delgado, esse conjunto de medidas foi fundamental para dese-
nhar o novo ciclo de acumulação na agricultura que vigora desde então,
definido pelo autor como “economia do agronegócio” (Delgado, 2012).
Tal como no período nacional-desenvolvimentista, no ciclo histó-
rico mais recente, que Cordeiro (2014) definiu como Novo Desenvolvi-
Agronegocio y desarrollo: contradicciones en el Brasil rural contemporáneo 71