Transformações agrárias, agricultura camponesa... 33
Revista Interdisciplinaria de Estudios Agrarios Nº 55 – 2do. semestre de 2021
ISSN 1853 399X - E-ISSN 2618 2475 - Páginas 29-50
tamento, pois três quartos das explorações agropecuárias têm até 20 hectares, ape-
sar de responderem por apenas 7,7% da terra. Nesse estrato, predominam agricul-
tores de origem paraguaia, pois respondem por 90,5% do total (MAG, 2009). Esse
grupo social (agricultores familiares campesinos de origem paraguaia) vive em
comunidades que são praticamente ilhas dentro de uma região majoritariamente
sojeira (Wimer e Hellmund, 2020). Essa situação traz um conjunto de implicações,
como a pressão para a venda ou arrendo da terra para grandes produtores de soja
(Wesz Jr., 2020 e 2022), assim como os impactos socioambientais do monocultivo
sobre essas comunidades (Fogel e Riquelme, 2005; Palau, 2015, 2016, 2017 e 2018;
Fogel, 2018 e 2019). Não obstante, muitas comunidades e famílias resistem, man-
tendo uma produção agropecuária expressiva e diversificada (Tellez Bejarano,
2017; Rojas Villagra, 2018). Entretanto, uma dificuldade que se apresenta nesse caso
refere-se à comercialização dessa produção, que se torna ainda mais complexa em
um território rodeado por monocultivos e cujos mercados agroalimentares estão
centrados neles.
É diante desse contexto que surge em 1997 a Central de Produtores Horti-
granjeiros Feirantes de Alto Paraná (Central de Productores Hortigranjeros Feriantes de
Alto Paraná), em Ciudad del Este
, sendo um importante espaço de venda da pro-
dução camponesa no departamento. Atualmente participam, toda semana, apro-
ximadamente 400 agricultores de diferentes distritos, e circulam de quarta-feira a
sexta-feira por volta de 12 mil consumidores. Dada a expressividade e relevância
desse mercado, este trabalho procura apresenta-lo, destacando sua relevância em
um departamento com as características de Alto Paraná.
Em termos metodológicos, além de revisão bibliográfica e sistematização de
dados secundários, foram feitas visitas à Central de Produtores Hortigranjeiros
Feirantes de Alto Paraná entre 2016 e 2022, conversando com diferentes produtores
e consumidores. Também foram realizadas entrevistas semiestruturadas com três
agricultores dirigentes e feirantes da Central de Produtores, além da visita à duas
comunidades camponesas que participam deste mercado (El Triunfo, distrito de
Minga Guazú, e 11 de Julio, distrito de Minga Porá).
Este trabalho está estruturado em três itens, além desta Introdução e das
Considerações finais. Inicialmente é feita uma breve análise das transformações
agrárias em Alto Paraná (Paraguai), com destaque à distribuição das terras e a ori-
gem dos produtores rurais. Na sequência o foco é a presença camponesa em Alto
Paraná ao longo do tempo, destacando suas características e sua situação em dife-
Ciudad del Este é a capital do departamento de Alto Paraná e possui uma população estimada em
306.679 habitantes em 2021, que chega a 589.266 pessoas na chamada Região Metropolitana de Ciudad
del Este, que também engloba os municípios de Presidente Franco, Hernandarias e Minga Guazú, sendo
a segunda maior aglomeração urbana do Paraguai, superada apenas pela Grande Assunção (INE, 2021).
Além da sua população, circulam em Ciudad del Este um número expressivo de estrangeiros, princi-
palmente brasileiros, que diariamente vão em busca de um conjunto variado de mercadorias (Pereira,
2019). Segundo levantamento realizado em 2019, passavam a Ponte da Amizade, em média, 37,1 mil
veículos/dia e o fluxo geral foi de 87.296 pessoas/dia que cruzaram a pé ou embarcado em veículos
(UDC, 2019 apud Horta, 2021). Diferentemente de Foz do Iguaçu e de Puerto Iguazu, que são locais de
estadia de turistas, Ciudad del Este é predominantemente um destino “bate e volta” (Rabossi, 2015),
dado que os estrangeiros passam algumas poucas horas no comércio e retornam.