Revista Interdisciplinaria de Estudios Agrarios Nº 55 2do. semestre de 2021
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Transformações agrárias,
agricultura camponesa e mercados agroalimentares
em Alto Paraná (Paraguai)
Valdemar João Wesz Junior
1
Resumo
O departamento de Alto Paraná (Paraguai), marcado pela concentração e estran-
geirização da terra, tem na agricultura camponesa de origem paraguaia um grupo
social numericamente expressivo, que historicamente enfrentou dificuldades para
acessar aos mercados agroalimentares. Diante disso surge, em 1997, a Central de
Produtores Hortigranjeiros Feirantes de Alto Paraná, em Ciudad del Este, sendo
um importante espaço de venda da produção camponesa no departamento. Este
artigo procura apresentar esse mercado, bem como destacar a sua relevância em
um departamento com as características de Alto Paraná. Em termos metodológicos,
além de revisão bibliográfica e sistematização de dados secundários, foram feitas
visitas à Central, conversando com diferentes produtores e consumidores. Também
foram realizadas entrevistas semiestruturadas com três agricultores dirigentes da
feira, além da visita à duas comunidades camponesas que participam deste merca-
do. Os resultados apontam que, ao longo dos anos, a Central cresceu e passou a
atender um grande mero de agricultores e de consumidores, oferecendo uma
variada gama de produtos agropecuários oriundos do próprio departamento. Ape-
sar dos desafios que precisam ser superados, é uma experiência que tem potencia-
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Universidade Federal da Integração Latino Americana (UNILA). E-mail: valdemar.junior@unila.edu.br
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lizado a permanência e o desenvolvimento da agricultura camponesa em Alto Pa-
raná, algo vital em um território pouco amistoso para com esse grupo social.
Palavras-chave: Mudança agrária Campesinato Canais de comercialização
Paraguai
Resumen
Transformaciones agrarias, agricultura campesina y mercados agroalimentarios en
Alto Paraná (Paraguay)
El departamento de Alto Para(Paraguay), marcado por la concentración y ex-
tranjerización de la tierra, tiene en la agricultura campesina de origen paraguaya
un grupo social numéricamente expresivo, que históricamente enfrentó difi-
cultades para acceder a los mercados agroalimentarios. Ante ello, en 1997 se creó la
Central de Productores Hortigranjeros Feriantes de Alto Paraná, en Ciudad del
Este, siendo un importante espacio de comercialización de la producción campesi-
na del departamento. Este artículo busca presentar este mercado, así como resaltar
su relevancia en un departamento con las características de Alto Paraná. En térmi-
nos metodológicos, además de una revisión bibliográfica y sistematización de da-
tos secundarios, se realizaron visitas a la Central, conversando con diferentes
productores y consumidores. También se realizaron entrevistas semiestructuradas
a tres agricultores dirigentes de la feria, además de una visita a dos comunidades
campesinas que participan en este mercado. Los resultados muestran que, a lo
largo de los años, la Central ha ido creciendo y pasando a atender a un gran
número de agricultores y consumidores, ofreciendo una amplia gama de productos
agrícolas propios del departamento. A pesar de los desafíos que hay que superar,
es una experiencia que ha potencializado la permanencia y el desarrollo de la agri-
cultura campesina en el Alto Paraná, algo vital en un territorio hostil a este grupo
social.
Palabras clave: Cambio agrario Campesinos Canales de comercialización
Paraguay
Abstract
Agrarian transformations, peasant farming and agrifood markets in Alto Para
(Paraguay)
The department of Alto Para(Paraguay), marked by the concentration and for-
eignization of land, has in peasant farming of Paraguayan origin a numerically
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expressive social group, which historically faced difficulties in accessing agrifood
markets. In view of this, in 1997, the Central of Horticultural Producers Fairs of
Alto Paraná, in Ciudad del Este, was created, being an important space for the sale
of peasant production in the department. This article seeks to present this market,
as well as highlight its relevance in a department with the characteristics of Alto
Paraná. In methodological terms, in addition to a literature review and systemati-
zation of secondary data, visits were made to the Central, talking to different pro-
ducers and consumers. Semi-structured interviews were also carried out with three
farmers who were directors of the fair, in addition to a visit to two peasant com-
munities that participate in this market. The results show that, over the years, the
Central has been growing and serving a large number of farmers and consumers,
offering a wide range of agricultural products typical of the department. Despite
the challenges that must be overcome, it is an experience that has strengthened the
permanence and development of peasant agriculture in Alto Paraná, something
vital in a territory hostile to this social group.
Keywords: Agrarian change Peasants Marketing channels Paraguay
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Introdução
O espaço rural paraguaio, historicamente, foi marcado por uma dualidade
(Pastore, 1972). Se por um lado estão as grandes explorações agropecuárias, contro-
ladas por atores nacionais e estrangeiros, cujo foco é a especulação fundiária e/ou
a produção especializada, no oposto está uma massa de camponeses que detém
pouca ou nenhuma terra, trabalhando com a família em uma produção diversifica-
da em sua pequena área, ou como empregado nas propriedades maiores ou em
setores não-agrícolas (Guereña e Rojas Villagra, 2016; Izá Pereira, 2019). No contex-
to recente, destaca-se a presença e o fortalecimento do agronegócio no Paraguai,
que tem nos monocultivos agrícolas (basicamente soja e milho) e na pecuária ex-
tensiva (de bovinos) seus principais pilares (Ortega, 2019; Kretschmer e Hocsman,
2021; Wesz Jr., 2022).
A desigualdade na distribuição de terras segue vigente no Paraguai, como
indicam os dados do último Censo Agropecuário (2008), em que 1,6% dos produto-
res controlam 79% de toda a área agropecuária do país, enquanto, no outro extre-
mo, 58,2% dos produtores respondem por apenas 2,1% da superfície total (MAG,
2009). Segundo Guereña e Rojas Villagra (2016, p. 14),
“Paraguay presenta la distribución de la tierra más desigual del
mundo, con una pequeña élite latifundista y oligopólica, con
importante participación de propietarios extranjeros, que con-
centra casi toda la superficie agrícola y ganadera, mientras que
la inmensa mayoría de familias campesinas e indígenas carecen
de tierra suficiente para subsistir.”
Galeano (2012), com base na mesma fonte de dados, reforça que 2% dos pro-
prietários possuíam 85% da área agrícola no país em 2008, enquanto os estrangei-
ros controlavam 32% da área cultivada e 19% do total do território, 60% dos quais
correspondem aos sojicultores de origem brasileira.
O departamento em que o agronegócio é mais expressivo é Alto Paraná, lo-
calizado na fronteira com Para (Brasil) e Misiones (Argentina). Além de ser o
maior departamento produtor de soja no Paraguai (26,2% da superfície cultivada
em 2021/22) (Inbio, 2022), em Alto Paraná o grão esem 9 de cada 10 hectares
cultivadas no verão, incluindo nesse cálculo tanto cultivos temporários como per-
manentes e hortaliças (MAG, 2009). Também uma forte presença de grandes
propriedades rurais, em que as unidades com mais de mil hectares são menos de
1% em número, mas detém quase metade da área total. E é o departamento com
maior incidência de estrangeiros no país, que controlam 20,4% das explorações
agropecuárias individuais, sendo que 19,2% desses são brasileiros (MAG, 2009).
Em suma, Alto Paraná é marcado pela concentração e estrangeirização da te-
rra, sobretudo de brasileiros, com uma forte especialização produtiva. Entretanto,
os agricultores familiares camponeses o numericamente importantes no depar-
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tamento, pois três quartos das explorações agropecuárias têm até 20 hectares, ape-
sar de responderem por apenas 7,7% da terra. Nesse estrato, predominam agricul-
tores de origem paraguaia, pois respondem por 90,5% do total (MAG, 2009). Esse
grupo social (agricultores familiares campesinos de origem paraguaia) vive em
comunidades que são praticamente ilhas dentro de uma região majoritariamente
sojeira (Wimer e Hellmund, 2020). Essa situação traz um conjunto de implicações,
como a pressão para a venda ou arrendo da terra para grandes produtores de soja
(Wesz Jr., 2020 e 2022), assim como os impactos socioambientais do monocultivo
sobre essas comunidades (Fogel e Riquelme, 2005; Palau, 2015, 2016, 2017 e 2018;
Fogel, 2018 e 2019). Não obstante, muitas comunidades e famílias resistem, man-
tendo uma produção agropecuária expressiva e diversificada (Tellez Bejarano,
2017; Rojas Villagra, 2018). Entretanto, uma dificuldade que se apresenta nesse caso
refere-se à comercialização dessa produção, que se torna ainda mais complexa em
um território rodeado por monocultivos e cujos mercados agroalimentares estão
centrados neles.
É diante desse contexto que surge em 1997 a Central de Produtores Horti-
granjeiros Feirantes de Alto Paraná (Central de Productores Hortigranjeros Feriantes de
Alto Paraná), em Ciudad del Este
2
, sendo um importante espaço de venda da pro-
dução camponesa no departamento. Atualmente participam, toda semana, apro-
ximadamente 400 agricultores de diferentes distritos, e circulam de quarta-feira a
sexta-feira por volta de 12 mil consumidores. Dada a expressividade e relevância
desse mercado, este trabalho procura apresenta-lo, destacando sua relevância em
um departamento com as características de Alto Paraná.
Em termos metodológicos, além de revisão bibliográfica e sistematização de
dados secundários, foram feitas visitas à Central de Produtores Hortigranjeiros
Feirantes de Alto Paraná entre 2016 e 2022, conversando com diferentes produtores
e consumidores. Também foram realizadas entrevistas semiestruturadas com três
agricultores dirigentes e feirantes da Central de Produtores, além da visita à duas
comunidades camponesas que participam deste mercado (El Triunfo, distrito de
Minga Guazú, e 11 de Julio, distrito de Minga Porá).
Este trabalho está estruturado em três itens, além desta Introdução e das
Considerações finais. Inicialmente é feita uma breve análise das transformações
agrárias em Alto Paraná (Paraguai), com destaque à distribuição das terras e a ori-
gem dos produtores rurais. Na sequência o foco é a presença camponesa em Alto
Paraná ao longo do tempo, destacando suas características e sua situação em dife-
2
Ciudad del Este é a capital do departamento de Alto Paraná e possui uma população estimada em
306.679 habitantes em 2021, que chega a 589.266 pessoas na chamada Região Metropolitana de Ciudad
del Este, que também engloba os municípios de Presidente Franco, Hernandarias e Minga Guazú, sendo
a segunda maior aglomeração urbana do Paraguai, superada apenas pela Grande Assunção (INE, 2021).
Além da sua população, circulam em Ciudad del Este um número expressivo de estrangeiros, princi-
palmente brasileiros, que diariamente vão em busca de um conjunto variado de mercadorias (Pereira,
2019). Segundo levantamento realizado em 2019, passavam a Ponte da Amizade, em média, 37,1 mil
veículos/dia e o fluxo geral foi de 87.296 pessoas/dia que cruzaram a ou embarcado em veículos
(UDC, 2019 apud Horta, 2021). Diferentemente de Foz do Iguaçu e de Puerto Iguazu, que são locais de
estadia de turistas, Ciudad del Este é predominantemente um destino “bate e volta” (Rabossi, 2015),
dado que os estrangeiros passam algumas poucas horas no comércio e retornam.
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rentes momentos históricos. Por fim, se apresenta a Central de Produtores Horti-
granjeiros Feirantes de Alto Para.
Transformações agrárias em Alto Paraná (Paraguai)
O departamento de Alto Paraná passou por profundas transformações nas
suas áreas rurais ao longo das décadas. Sem dúvidas, um marco importante foi a
Guerra da Tríplice Aliança entre Paraguai, de um lado, e Brasil, Uruguai e Argen-
tina, de outro, que teve início em 1864 e terminou em 1870 (Kleinpenning, 1992;
Souchad, 2008). Com o fim da guerra, que teve efeitos brutais contra a nação para-
guaia, o país encontrou-se endividado e iniciou a venda de terras fiscais a domí-
nios estrangeiros (Nickson, 2005; Kleinpenning, 1992). Vale destacar que em 1870,
quando foi finalizada a guerra, as terras fiscais abarcavam 98% do território, com
somente 489 mil hectares em regime de propriedade privada (Kleinpenning, 1992).
Mas, entre 1871 e 1875, foram aprovadas várias leis que permitiram a alienação de
terras fiscais, sendo que as normativas forneciam maiores facilidades para os com-
pradores e baixo preço (Rojas Villagra, 2016). Com isso, entre 1885 e 1914, 81% do
território nacional foi comercializado a proprietários de terras e especuladores,
principalmente estrangeiros, e muitos pequenos arrendatários e ocupantes de te-
rras fiscais ficaram sem terra (Kleinpenning, 1992). A venda de áreas públicas teve
efeito direto na concentração de terra no país, que alcançou patamares impressio-
nantes. Conforme Torres Figueredo (2012), no final do século XIX, 53% das terras
paraguaias eram controladas por apenas 65 empresas.
Em Alto Paraná, assim como no restante do país, empresas estrangeiras
compraram grandes áreas e se beneficiaram com a exploração da erva mate e da
madeira. No departamento em análise, a principal firma foi a Industrial Paraguaia,
fundada em Londres em 1886, tendo entre seus membros os presidentes para-
guaios Bernardino Caballero e Patricio Escobar. Em 1911 esta empresa dominava
cerca de 2.718.750 hectares em diferentes departamentos do país, o que equivale a
17% do total de terras da região oriental do Paraguai. Outra empresa, do francês
Domingo Barthe, adquiriu cerca de 1.875.000 ha para extração da erva em Alto
Paraná, Caazapá e Itapúa (Nickson, 2005; Souchad, 2008). Entretanto, apesar da
atuação dessas corporações em Alto Paraná durante 60 anos, elas
“[…] no lograron explotar en forma intensiva los recursos natu-
rales de la región. La yerba era el único cultivo que ellos real-
izaban, pero éste continuaba teniendo poca importancia ya que
la mayor parte de la yerba continuaba siendo recolectada en
forma silvestre. Las operaciones para la explotación maderera
rara vez penetraban más allá de unos pocos kilómetros tierra
adentro desde los puertos ribereños sobre el Río Paray, asi-
mismo, tampoco se construyó ningún sistema de carreteras.
Ninguna de las empresas diversificó sus actividades hacia otras
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labores agro culturales o del cultivo del café, ni tampoco llevó a
cabo la reforestación de los bosques. Asimismo, no iniciaron
programas de colonización en la región.” (Nickson, 2005, p. 231)
Alto Paraná, em 1956, segundo o I Censo Agropecuário do país, tinha apenas
três distritos (Hernandarias, Irala e Ñacunday), apesar de cobrir todo o atual terri-
tório e aproximadamente a metade da área que hoje pertence ao departamento de
Canindeyú. Naquele momento Alto Paraná tinha apenas 790 explorações agro-
pecuárias, distribuídas em 310.781 hectares, indicando uma cobertura de aproxi-
madamente 14% do território do departamento. Apesar desse baixo dinamismo
econômico e da limitada transformação no uso do solo, o controle da terra seguia
muito concentrado, com cinco explorações (0,6% do total) controlando 274.870
hectares (88,4% do total). Por outro lado, havia um grande quantitativo de campo-
neses (três quartos do total das explorações) que permaneciam em regime de ocu-
pação, sobretudo em terras de particulares. Em termos de nacionalidade, 95,8%
eram paraguaios, 1,8% argentinos e 1,0% brasileiros, além de um pequeno número
de outras nacionalidades. Entre as cinco maiores explorações, três pertenciam a
paraguaios, uma a argentino e a outra não respondeu essa questão (MAG, 1960).
Nos anos 1950 inicia a longa ditadura militar de Alfredo Stroessner (1954-
1989). O general Stroessner assumiu “en un contexto donde los grandes latifundios
agroforestales que dominaron la estructura agraria desde la posguerra del setenta,
empezaban a declinar como forma dominante de producción en el campo” (Rojas
Villagra, 2016, p. 70). Neste cenário, o Governo Stroessner estrutura ambiciosos
programas de colonização e de ocupação em regiões pouco povoadas do país, com
destaque ao Alto Paraná, sobretudo nas áreas públicas, que não haviam sido co-
mercializadas no pós-guerra, ou sobre a terra das grandes empresas estrangeiras,
que começam a ser vendidas para esse fim ou que foram desapropriadas pelo Es-
tado (Nickson, 2005). Silva (2007) e Palau e Heikel (2016) vão diferenciar três for-
mas de ocupação nestas áreas: colonização pública, colonização privada e ocu-
pação espontânea.
Em relação a esta primeira iniciativa, ela surgiu em 1963 no âmbito do pro-
grama de colonização do Instituto de Bem-estar Rural (IBR), que tinha como intuito
retirar pequenos agricultores paraguaios que ocupavam as terras da Zona Central
(próxima à Asunción) e reinstala-los em regiões do norte e leste oriental, uma vez
que o preço das terras centrais era mais elevado e intensificava conflitos entre lati-
fundiários e minifundiários naquela área (Nickson, 2005; Rojas Villagra e Areco,
2017). Em Alto Paraná, até 2010, se “formaron 70 colonias públicas, con 282 mil
hectáreas y 15 mil lotes agropecuarios, teniendo como promedio 18 hectáreas por
finca” (Rojas Villagra e Areco, 2017, p. 69).
O segundo mecanismos de ocupação foi a colonização privada, muito ex-
pressiva em Alto Paraná, em que as terras dos grandes latifúndios foram sendo
vendidas às empresas de colonização privada, sobretudo de capital brasileiro, “vol-
tadas ao lucrativo ramo imobiliário e madeireiro, cujo alvo principal era a venda de
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lotes aos colonos oriundos do oeste do Paraná e dos estados de Santa Catarina e
Rio Grande do Sul e também às grandes companhias multinacionais ligadas ao
setor do agronegócio” (Silva, 2007, p. 142).
a terceira forma era aquela constituída pela colonização de caráter es-
pontâneo, cujos interessados vinham de forma independe ou pelas próprias redes
sociais e familiares conhecer e adquirir a área. Enquanto que as colônias oficiais
implementadas pelo IBR priorizavam os camponeses paraguaios, a colonização
privada e espontânea envolveu de forma mais significativa os imigrantes brasilei-
ros (Wesz Jr., 2020). Como vão sintetizar Riquelme (2005) e Vázquez (2006), estas
iniciativas de ocupação do território vão conformar dois movimentos, “Marcha
hacia el Este”, que trazia camponeses paraguaios da área de influência de Asun-
ción para as margens do rio Paraná, e a “Marcha hacia el Oeste”, com colonos bra-
sileiros que começa adquirir terras e se instalar no Paraguai.
Apesar das colônias do IBR focarem nos pequenos agricultores paraguaios,
os problemas na sua implementação e acompanhamento (que serão abordados no
item seguinte) gerou o repasse e a venda dos direitos de algumas glebas para colo-
nos brasileiros, visto que a maioria destes tinha capital, implementos e conhecia
as dinâmicas das culturas comerciais (Wesz Jr., 2020). Palau e Heikel (2016), em
pesquisa de campo de 1979 em duas colônias de Alto Paraná, apontavam que
aproximadamente dois terços das famílias residentes eram paraguaias e um terço
brasileiras, com uma forte diferenciação social: “mientras los brasileros asenta-
dos en ambas colonias tienen una extensión promedio de 69 hectáreas, los para-
guayos tienen 23, y mientras los brasileros dieron un valor promedio de sus má-
quinas e implementos de Gs 1.260.000, los paraguayos tienen un equivalente de Gs
98.000” (p. 32). E complementam que “es obvio que la penetración de la migración
brasilera ha significado el inicio de un proceso interno de diferenciación y concen-
tración de los factores productivos” (p. 32).
A colonização privada e espontânea vai se assentar, em grande medida, nas
terras que anteriormente pertenciam às grandes empresas estrangeiras. Segundo
Nickson (2005), parte importante dessas áreas foram adquiridas por companhias
agrícolas brasileiras, que inicialmente “extraen las variedades de madera comer-
cialmente valiosas (cedro, lapacho, perobá y urundey), cuya ganancia es normal-
mente suficiente para pagar la compra inicial de tierra” (p. 243). E, depois de ex-
trair “las especies de valor comercial, las compañías agrícolas brasileras dividen
sus propiedades en parcelas más pequeñas (por lo general de 50 a 200 has.), las que
son puestas a la venta en el Estado de Paraná por una red de corredores de fincas
rurales” (p. 244).
Os Censos Agropecuários de 1956, 1981 e 1991 permitem receber as significa-
tivas transformações na área rural de Alto Paraná (Tabela 1). Uma primeira infor-
mação diz respeito ao crescimento no número de explorações, que salta de 790 para
21.772 nesses 35 anos (crescimento de 2.656%), assim como a área passa de pouco
mais de 300 mil para 830 mil hectares, com as explorações agropecuárias cobrindo
55,7% do território. Além disso, o número de agricultores brasileiros que condu-
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ziam explorações agropecuárias saltou de 8 para 7.770 entre 1956 e 1991 em Alto
Paraná, sendo o departamento do país com maior presença relativa (36,2% do total
unidades produtivas) (MAG, 1960 e 1993).
Tabela 1. Número e superfície das explorações agropecuárias em Alto Paraná -
Paraguai (1956, 1981, 1991 e 2008).
Tamanho
da exploração
Número de explorações agropecuárias
1956*
1981
1991
2008
N.
N.
%
N.
%
N.
%
< 10 ha
547
4.567
33,3%
9.871
45,3%
11.181
56,0%
> 10 ha < 50 ha
216
7.706
56,2%
9.813
45,1%
6.207
31,1%
> 50 ha < 100 ha
8
760
5,5%
1100
5,1%
954
4,8%
> 100 ha < 1.000 ha
11
628
4,6%
881
4,0%
1454
7,3%
> 1.000 ha
8
43
0,3%
107
0,5%
171
0,9%
Total
790
100,0%
13.704
100,0%
21.772
100,0%
19.967
100,0%
Superfície das explorações agropecuárias
< 10 ha
1.980
19.089
3,0%
43.184
5,2%
42.750
3,7%
> 10 ha < 50 ha
3.990
156.087
24,3%
177.934
21,4%
112.213
9,7%
> 50 ha < 100 ha
489
49.649
7,7%
72.276
8,7%
64.754
5,6%
> 100 ha < 1.000 ha
3.029
130.554
20,3%
212.876
25,7%
420.078
36,2%
> 1.000 ha
301.296
287.440
44,7%
323.404
39,0%
521.609
44,9%
Total
310.783
642.819
100,0%
829.674
100,0%
1.161.404
100,0%
* Entre 1945 e 1973 o departamento de Alto Paraná cobria, além de território vigente, apro-
ximadamente metade do atual departamento de Canindeyú.
Fonte: MAG (1960, 1983, 1993 e 2009).
Embora os produtores paraguaios predominavam nas explorações com até
20 hectares, geralmente atrelados às colônias criadas pelo IBR, e naquelas com mais
de 1.000 hectares, os brasileiros eram majoritários nos demais estratos (MAG, 1960
e 1993). Outra característica é a manutenção da concentração da terra em Alto Pa-
raná. Ainda que não nos níveis de 1956, a Tabela 1 permite perceber que as unida-
des com mais de 1.000 hectares em 1991, ainda que respondiam por apenas 0,5%
do número total, controlavam praticamente 40% da superfície, enquanto 45% dos
produtores ficavam com 5% da área (MAG, 1993).
A década de 1990 no Paraguai é marcada pela transição democrática com a
queda de Alfredo Stroessner do poder em 1989, em um contexto econômico regio-
nal neoliberal e com maior presença do capital financeiro (Izá Pereira, 2019). A
partir desse momento a soja se expande com grande intensidade no país, com des-
taque em Alto Paraná, onde salta de menos de 350 mil hectares em 1995/96 para
950 mil em 2019/20 (MAG, 2021). O grão, efetivamente, predomina na paisagem
durante o verão, controlando grande parte da área cultivada no departamento. O
Instituto de Tecnologia Agrícola (Inbio, 2022) lança anualmente uma estimativa da
superfície cultivada com soja na região oriental do Paraguai com base em imagens
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de satélite e é impressionante, sobretudo em Alto Paraná, cujas áreas em branco
são reduzidas e correspondem, principalmente, às barragens de Itaipu (na fronteira
com o Brasil) e de Iguazú (na divisa com Caaguazú), além de áreas de preservação
do Rio Monday (Figura 1).
Figura 1 Áreas com cultivo de soja (em vermelho) no oriente paraguaio na safra
2021/22.
Fonte: Inbio (2022).
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A expansão da soja aumentou a concentração fundiária em Alto Paraná. De
1991 a 2008, os agricultores com mais de mil hectares cresceram tanto em número
(de 107 para 171) como em área (323.404 para 521.609 hectares). Com isso, sua par-
ticipação sobre a superfície agropecuária passou de 39,0% para 44,9% do total,
mesmo sendo menos de 1% dos produtores. Embora os agricultores com até 10
hectares também tenham ampliado no período (de 9.871 para 11.181), perderam
área (43.184 para 42.750 hectares). Mais da metade das explorações agropecuárias
de Alto Paraná controlam menos de 4% da superfície (Tabela 1).
Os dados do último Censo Agropecuário (2008) também indicavam uma
redução do número de agricultores brasileiros conduzindo explorações agropecuá-
rias em Alto Para(de 7.770 para 3.704), derivada do próprio retorno ao Brasil, do
avanço para novas regiões agrícola do país ou do estabelecimento em outros seto-
res econômicos (Aquino, 2018; Wesz Jr., 2020). Entretanto, muitos estabelecimentos
passam a ser conduzidos pelos filhos dos imigrantes, a maioria nascida no Para-
guai e que consta no Censo como paraguaio” (Wesz Jr., 2020). Mesmo assim, em
Alto Paraná o percentual de brasileiros em 2008 alcançou 19,2%. Se por um lado
um menor número de produtores brasileiros no Paraguai, por outro eles estão em
estratos de área maior. Conforme a Figura 2, a concentração fundiária por parte
deste grupo de estrangeiros é muito perceptível no departamento. Em todos os
estratos com mais 50 hectares os brasileiros são majoritários em relação aos para-
guaios e imigrantes de outras nacionalidades em 2008. Embora tenham perdido
parte do seu espaço entre 1991 e 2008 nos grupos de área com menos de mil hecta-
res, chama atenção que justamente naqueles estabelecimentos com mais de mil ha
foi onde sua participação salta de 21% para 55% no mesmo período (Figura 2).
Figura 2 Participação dos produtores rurais brasileiros por estratos de área em
Alto Paraná
Fonte: MAG (1993 e 2009).
27%
57%
77% 72%
21%
9%
41%
63% 63%
55%
0%
10%
20%
30%
40%
50%
60%
70%
80%
90%
< 20 ha > 20 ha < 50 ha > 50 ha < 100ha > 100 ha < 1.000 ha > 1.000 ha
1991
2008
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A partir dessa breve apresentação da história agrária de Alto Paraná, é per-
ceptível a marcada concentração e estrangeirização da terra, sobretudo entre brasi-
leiros, além de uma forte especialização produtiva na soja. Não obstante, os dados
ainda apontam para a presença e permanência expressiva dos camponeses para-
guaios, mesmo nesse contexto territorial hostil para esse grupo social
3
. Trataremos
em específico desse público no próximo item.
A presença camponesa em Alto Para
Como comentado acima, até 1960 o espaço agrário de Alto Paraná era mar-
cado pela presença de grandes latifúndios que se centravam na extração de erva-
mate. Nesse momento “las condiciones de trabajo eran extremadamente duras para
los mensú (recolectores de yerba)e os “peones empleados en los yerbales de la
RFO [Región Fronteriza Oriental del Paraguay], que llegaron a alcanzar un número
de 10.000, abandonaban la región tan pronto como podían al término de sus con-
tratos” (Nickson, 2005, p. 231). As estratégias de sobrevivência dos camponeses,
nesse momento, “debía transitar por dos carriles, el de su agricultura de subsisten-
cia con un remanente para la exportación, y el trabajo, a veces temporal en los
obrajes” (Fogel, 2010, p. 32).
Em Alto Paraná, em 1956, das 790 explorações agropecuárias existentes, 763
tinha menos de 50 hectares. Praticamente metade das explorações (398 unidades)
não chegavam a 5 hectares, sendo que neste grupo 90% estava em regime de ocu-
pação de terras de particulares (58,8%) e públicas (41,2%). As explorações de até 50
hectares controlavam menos de 6 mil hectares (1,9% da área total), cujo uso volta-
va-se principalmente para cultivos temporários (51,3% da área), seguido por mata
(31,3%), cultivos permanentes (14,9%), pradarias (0,7%) e outros usos (1,8%). Nesse
sentido, predominava a atividade agrícola frente à pecuária, ainda que tivessem
aves, suínos e bovinos, inclusive para produção de leite. Em termos de cultivo, o
Censo Agropecuário de 1956 não diferencia por tamanho da exploração, mas aque-
les com maior adesão no total eram a mandioca, presente em 715 unidades, com
uma média de 0,9 hectares por agricultor, e o milho, que era cultivado por 705 ex-
plorações, com uma superfície média de 3,5 hectares. Além disso, entre 100 e 350
explorações cultivavam batata, feijão, arroz, cana e amendoim, com área média de
0,3 a 0,7 ha (MAG, 1960). Frente a essas características, pode-se dizer que predomi-
nava uma agricultura camponesa que detinha uma produção diversificada em uma
pequena área de terra sob regime de ocupação.
Essa situação se transforma de maneira substantiva quando Alfredo Stroess-
ner assume o poder e estabelece o programa de colonização via IBR, como visto
acima. Em Alto Paraná, segundo dados de Rojas Villagra e Areco (2017), foram
criadas durante o governo Stroessner 31 colônias no departamento, beneficiando
3
Outro grupo social expressivo no contexto agrário de Alto Paraná são os indígenas, que não são o foco
desta pesquisa, mas que também foram continuamente afetadas pela “concentración y extranjerización
de la tierra durante la historia reciente del Paraguay” (Wimer e Hellmund, 2020, p. 168).
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mais de 8.400 famílias em mais de 200 mil hectares, com uma área média de 23,7
hectares por lote. Os grupos beneficiários eram constituídos “por familias campe-
sinas paraguayas que en su lugar anterior de residencia eran, o minifundistas se-
miasalariadas de la zona Central de la Región Oriental, o familias vinculadas a la
explotación de obrajes y yerbales en la zona” (Palau e Heikel, 2016, p. 32).
O programa de colonização pública tinha como objetivos: modificar a estru-
tura de distribuição de terras em benefício dos pequenos agricultores paraguaios;
incorporar progressivamente colônias recém-criadas no processo de desenvolvi-
mento nacional; ampliar a “fronteira econômica” do país. Porém, os dois primeiros
objetivos não foram alcançados por conta de diferentes problemas, como o baixo
suporte econômico recebido pelos assentados, subornos envolvendo os responsá-
veis por fazer a demarcação, o desenho dos lotes ignorava a existência de estradas
e cursos de água, faltava assistência técnica e crédito para a produção, a titulação
das áreas demorava para ser emitida, muitas colônias eram afastada do acesso a
serviços básicos (saúde, educação, etc.), sua produção ficava dependente da comer-
cialização via atravessadores, etc. (Vázquez, 2006; Silva, 2015; Palau e Heikel, 2016;
Rojas Villagra, 2016).
Como argumenta Vázquez (2006, p. 53), os campesinos paraguaios, acostu-
mados à produção agrícola de subsistência, encontraram um cenário natural dife-
rente de suas áreas de origem:
“Ni la fertilidad del suelo ni el apoyo estatal, escaso e inefi-
ciente, pudieron implantar en forma duradera a los mismos,
mientras paralelamente se desarrollaba un mercado muy
dinámico de especulación y venta de tierras que conspiraba
contra la instalación de las colonias de campesinos paraguayos
provenientes del área central minifundista y empobrecido.”
E, como afirma Silva (2015, p. 47), as
“[...] deficiências das ações do IBR possibilitaram o massivo in-
gresso dos colonos brasileiros na região da fronteira oriental,
cuja disponibilidade de recursos e familiarização com as cultu-
ras de mercado se mostraram mais atrativas aos interesses do
governo e dos agentes imobiliários que passaram a atuar
naquelas regiões. Tal situação levaria num curto intervalo de
tempo a reprodução em nova escala dos mesmos mecanismos
especulativos e excludentes que caracterizavam a exploração
dos recursos naturais do país, ampliando as mazelas e vicissi-
tudes do problema fundiário historicamente irresoluto.
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Apesar da permanência da concentração da terra em Alto Paraná, a coloni-
zação pública, além da colonização privada e espontânea, teve um efeito importan-
te ao ampliar significativamente o número de explorações agropecuárias com até
50 hectares, que saltaram de 763 para 12.273 entre 1956 e 1981, assim como a área
passou de quase 6 mil para mais de 175 mil hectares (Tabela 1). Dessas, um terço
tinha o título definitivo em 1981, enquanto 22,8% estava com título provisório,
14,6% com arrendo de particular e ainda haviam áreas ocupadas de particulares
(11,0%) e do Estado (18,6%), além de outras formas de posse da terra. Vale pontuar
que, embora predominavam agricultores paraguaios (62,2% daqueles com acom
até 50 hectares), os brasileiros também eram significativos (36,9%), enquanto os
demais estrangeiros tinham uma atuação mais pontual (0,9%) (MAG, 1983).
Em 1991, no III Censo Agropecuário, cresce ainda mais o número de explo-
rações agropecuárias com até 50 hectares (19.684, chegando a 90,4% do total), se
consolida nesse grupo as terras próprias (com 55,7% das unidades, ainda que mui-
tas seguiam sob ocupação, principalmente de particulares) e a presença brasileira
persiste (um terço das unidades deste estrato). Em relação aos cultivos, é a primei-
ra vez que o divulgados por grupos de área total por departamento. Em Alto
Paraná, no estrato de até 50 hectares, predominava a mandioca (em 94,5% das ex-
plorações), seguido pelo milho (81,9%) e algodão (59,5%), mas também estavam
presentes, ainda que com menor incidência, batata, feijão, arroz, cana, amendoim,
erva-mate, soja, menta e um conjunto amplo de frutas, legumes e verduras. Além
disso, 90% tinha aves e dois terços bovinos e suínos (MAG, 1993).
Até o final da década de 1980 o algodão era o principal cultivo da economia
camponesa paraguaia, “plantado solo por productores que pertenecen a segmentos
en los cuales predominan campesinos de origen paraguayo” (Palau e Heikel, 2016,
p. 240).
“En los os setenta, el gobierno, bajo la influencia de organis-
mos internacionales, impuluna mayor vinculación mercantil
de la economía campesina a través del cultivo del algodón, que
tenía un buen precio en el mercado internacional. Con el apoyo
financiero del Banco Mundial, se implementó el Proyecto de
Desarrollo Rural Integrado (PDRI), que otorgaba créditos a las
unidades campesinas para incrementar la producción de dicho
rubro de renta. Esta mayor vinculación con el mercado por me-
dio del algodón, llevó a la mayoría de las familias a reducir
progresivamente su producción de cultivos de autoconsumo, y
por tanto, a aumentar su dependencia de los mercados para su
reproducción, mediante alimentos e insumos comprados.” (Ro-
jas Villagra, 2016, p. 81)
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Entretanto, o algodão entrou em crise com a redução dos preços internacio-
nais, ataque de pragas e estiagem (Rojas Villagra, 2016; Renshaw, 2017). Essa si-
tuação deixou aos
“pequeños productores endeudados y con escasa diversifi-
cación agrícola, situación que derivó en que miles de familias
campesinas no tuvieran cómo pagar sus deudas y ni siquiera
cómo alimentarse, por lo cual muchas perdieron sus tierras y
empobrecidas migraron hacia zonas urbanas, o deambularon en
búsqueda de alguna posibilidad de ocupación de tierras ru-
rales.” (Rojas Villagra, 2016, p. 82)
Conforme Riquelme (2016, p. 31), “la agricultura campesina comenzó a pro-
fundizar su crisis en los primeros años de la década de 1990 y coincide con la caída
sostenida de la producción algodonera”. Esse contexto foi, inclusive, central para a
criação da Central de Produtores Hortigranjeiros Feirantes de Alto Paraná, como
veremos no próximo item.
Após o Governo Stroessner foram construídas outras 52 colônias em Alto
Paraná, assentando 6.697 famílias camponesas, em praticamente 55 mil hectares,
com média de 8,1 hectares por família (Rojas Villagra e Areco, 2017). Entretanto, a
crescente expansão da soja na região foi afetando de maneira crescente este grupo
social. Como bem destaca Vázquez (2006, p. 54),
“La característica principal del sistema de la soja es su constante
necesidad de expansión, volviéndose una actividad muy con-
sumidora de espacio que se alimenta no solamente de los preci-
os internacionales o del dispositivo tecnológico de producción,
sino también de la disponibilidad de tierras que, aunque con
dueños y ocupantes campesinos, son acaparadas por los
productores de soja. Ocurre de esta forma una modificación en
la estructura de la tenencia de la tierra, correspondiendo a la
expansión del cultivo de la soja y el trigo y al repliegue de la ag-
ricultura campesina, obligada esta última a migrar o reconver-
tirse.”
Os dados do Censo Agropecuário de 2008 permitem ver os efeitos desse
processo. Mesmo com a criação das colônias camponesas, as explorações com até
50 hectares caíram 11,7% entre 1991 e 2008. Além disso, você terá um quarto dos
agricultores de Alto Paracom até 50 hectares envolvidas com o cultivo de soja
(MAG, 2009), seja produzindo em “parceria” com empresas ou, de maneira majori-
tária, arrendando suas áreas para produtores maiores, sobretudo brasileiros (Vi-
llalba e Wesz Jr., 2016; Avalos Vera, Mereles e Wesz Jr., 2017; Wesz Jr., 2022).
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Aqueles que resistem ao cultivo da soja ou ao arrendo das suas áreas, aca-
bando sendo imprensado pelo agronegócio da soja e pelos produtores estrangeiros.
Nesse contexto, buscam estratégias mais autônomas para se manter como agricul-
tores, investindo na diversificação da produção agrícola, muitas vezes conciliando
com rendas externas à exploração agropecuária (Riquelme, 2016; Rojas Villagra,
2016). Aqueles cuja renda depende fundamentalmente da produção agropecuária
própria, acabam enfrentando vários desafios, sendo que o acesso ao mercado é
corriqueiramente apontado como um problema para as famílias camponesas para-
guaias. Conforme Riquelme (2016, p. 39),
“la inseguridad en la inserción a los mercados es otro limitante
que desmotiva a los productores de pequeñas fincas. […] Los
productores tienen capacidad para producir a pesar del nulo
acompañamiento técnico, pero no lo hacen por la incertidumbre
del mercado. Muchos cultivan, pero no pueden vender y si
venden el precio no compensa.
Frente a isso, esse grupo social tem buscado caminhos alternativos, como
tem sido a experiência da Central de Produtores Hortigranjeiros Feirantes de Alto
Paraná.
A Central de Produtores Hortigranjeiros Feirantes de Alto Paraná
A Central de Produtores Hortigranjeiros Feirantes de Alto Parateve seu
início em fevereiro de 1997 em Ciudad del Este. Conforme comentado por um diri-
gente, no início havia pouca produção e participavam 8 distritos, 25 comitês e por
volta de 230 agricultores associados. Entre as motivações da sua criação, estava a
crise econômica no setor campesino, sobretudo em virtude de problemas com o
cultivo e comércio do algodão, deixando os agricultores sem uma fonte de renda.
Foi então que, a partir de diferentes mobilizações sociais, se iniciou o debate sobre
a construção de um espaço de venda direta da produção de hortigranjeiros aos
consumidores. “Nosotros trabajamos en la finca, trabajamos en feria y nosotros
comercializamos nuestros productos de forma directa, sin intermediarios. Somos
productores y nos consideramos también comerciantes”.
Nesse sentido, trata-se de um mercado que integra o que a literatura tem
denominado de “cadeias curtas” ou “circuitos curtos de comercialização”, cuja
característica principal é a redução ou eliminação dos intermediários nas relações
entre produtores e consumidores, diminuindo os locais de passagem dos produtos
ao longo de uma cadeia produtiva. “Trata-se de uma alternativa à lógica e às mo-
dalidades organizativas do sistema agroalimentar dominante, buscando o encur-
tamento das distâncias (físicas, sociais, culturais, econômicas) entre o „mundo‟ da
produção e do consumo” (Gazolla e Schneider, 2017, p. 13).
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Conforme relatos dos agricultores feirantes, com o passar do tempo tiveram
que diversificar a produção para atender à demanda dos consumidores urbanos.
Atualmente mais de 80 produtos sendo comercializados semanalmente, que
inclui verduras, legumes, frutas, mandioca, abóbora, moranga, batata, feijão,
amendoim, milho, carnes (bovina, suína, de aves, cabra, ovelha, peixe), ovos, leite,
chás, produtos processados (farinhas, queijos, doces), entre outros. Além do espaço
de venda dos produtos agropecuários, desde 2015 a Praça de Comidas Típicas
(Patio de Comidas Típicas), que dispõe de uma grande variedade de alimentos tradi-
cionais do Paraguai, e que utiliza como ingredientes a produção dos agricultores
feirantes.
Segundo um dos dirigentes entrevistados, produtores rurais de 18 dos 22
distritos do Departamento de Alto Paraná. E participam semanalmente de 380 a
420 agricultores, sendo que “varía dependiendo de la producción, del tiempo.
Normalmente, a partir de abril hasta setiembre hay muchas producciones, y des-
pués, con la temperatura alta y cuando hay sequía, decae la producción y reduce el
número de feriantes”. A feira está localizada atrás do terminal de ônibus de Ciu-
dad del Este, o que favorece a circulação de consumidores. A estimativa da direção
da Central é de que passam pela feira por volta de 12 mil consumidores por sema-
na. Ela inicia semanalmente na quarta-feira às 7 horas da manhã e vai até sexta-
feira ao meio dia. A Central contou, em diferentes momentos, com o apoio da pre-
feitura municipal, departamento, Ministério da Agricultura e Pecuária (Ministério
de Agricultura e Ganaderia MAG) e Itaipu.
Em termos organizativos, os agricultores integram comitês (geralmente um
por comunidade) e estes comitês formam uma associação distrital. A Central tem
sua gestão composta pelos representantes das 18 associações distritais, além de um
Conselho Diretivo com 8 membros, Tribunal de Conduta, Tribunal de Contas e
Comitê de Mulheres (a cargo da Praça de Comidas picas) (Red Rural, 2016). “Di-
ferentes organizaciones formamos la feria, de 18 distritos del Departamento, e cada
uno viene con sus respectivos dirigentes, anos encontramos unos cuantos líde-
res, unos cuantos caciques, como lo llamamos, y hay varios conflictos, pero la nece-
sidad nos obliga a que podemos nos organizar”, comenta um dirigente. Na Central
os preços o padronizados, evitando uma concorrência entre agricultores ou uma
inflação aos consumidores, podendo haver uma redução se a qualidade do produ-
to for inferior ou quando as atividades na feira estão sendo finalizadas.
Conforme relatado por alguns feirantes e levantado pelo estudo da Red Ru-
ral (2016), vários problemas afetam os agricultores e várias melhorias o ne-
cessárias, pois faltam políticas públicas (sobretudo de crédito rural, assistência
técnica e seguro agrícola) focalizadas para a agricultura familiar campesina. Apesar
de Central receber apoio técnico do MAG, é consensual entre os feirantes que é
insuficiente. Outra necessidade é a melhoria dos espaços da Central e a construção
de um alojamento aos feirantes, pois muitos deles dormem entre quarta e sexta-
feira no próprio espaço de comercialização. Os feirantes também reclamam do alto
ingresso de alimentos contrabandeados do Brasil e da Argentina, que acabam con-
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correndo diretamente com os produtos da feira.
Outra problemática que também afeta os feirantes está conectada com o con-
texto agrário de Alto Paraná. São recorrentes as reclamações sobre a predominân-
cia de monocultivos no departamento, que afeta diretamente a produção dos fei-
rantes, sobretudo por conta da aplicação de agrotóxicos nas áreas circundantes aos
lotes das famílias, sem o respeito às normativas ambientais. Além dos efeitos sobre
a saúde humana e a natureza, os agricultores reclamam que alguns cultivos agríco-
las não podem mais ser produzidos em função da aplicação de determinados agro-
químicos nas lavouras de soja e milho. Em paralelo, o uso de inseticidas nas áreas
de monocultivo acaba repelindo os insetos, que se transferem para as produções
circundantes, as quais ficam expostas a estas pragas. Situações dessa natureza ge-
ram tensões e denúncias, como ocorreu na comunidade El Triunfo. Neste caso,
depois de negociações, ocorreu a construção de barreiras ambientais (plantação de
árvores ou arbustos que não permitem a entrada direta de agrotóxicos nas terras
lindeiras), que amenizou o problema (Tellez Bejarano, 2017).
Com a pandemia a Central não chegou a paralisar suas atividades, mas se
intensificou o acompanhamento das autoridades em relação aos temas sanitários.
O fechamento da fronteira com Brasil e Argentina foi positivo aos agricultores fei-
rantes porque reduziu o contrabando de alimentos oriundos desses países. Segun-
do um dos dirigentes entrevistados, “en Paraguay, 75 a 80% de los alimentos que
está en mercado de abasto, supermercado, son de origen extranjero. Entonces, du-
rante la pandemia no había más la posibilidad del ingreso de productos de origen
extranjero y la gente del mercado de abasto y supermercado recurre a nuestra feria
para hacer su compra para reventa”. Além da pressão dos agricultores, a feira não
foi paralisada porque sem o ingresso de produtos alimentares do exterior, ocorreu
“una necesidad enorme de la provisión de los productos, de los alimentos, para la
gente que vive en la ciudad”.
Por fim, é importante comentar que este mercado cumpre um papel central
para a reprodução social dos pequenos agricultores paraguaios em Alto Paraná.
Conforme nos informou um dos dirigentes da Central, a maior parte das famílias
campesinas que participam neste mercado tem na feira a sua principal fonte de
renda. E, em muitas situações, a feira acaba sendo um meio de resistência da pro-
dução camponesa familiar, reduzindo a possibilidade de arrendamento de suas
áreas para o cultivo de soja/milho, como relatou uma agricultora durante visita à
Comunidade 11 de Julio, em Minga Porá: “En nuestra comunidad las fincas tienen
10 hectáreas, y la mayoría ya alquila para soja. Dejan una o dos hectáreas cerca de
su casa para su producción, su abastecimiento, y alquilan el resto. […] Nosotros
[feriantes] no alquilamos, resistimos a esto porque conseguimos vender lo que
producimos en las ferias de Minga Porá y Ciudad del Este, principalmente esta,
porque hay mucha gente que compra ahí. Como nuestro distrito es pequeño, no
hay tanta venta acá.”
Nesse sentido, a Central de Produtores Hortigranjeiros Feirantes de Alto Pa-
raná contribui com a renda das famílias agricultoras, freando inclusive o aumento
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da soja dentro das comunidades camponesas. Além disso, a feira tem se mantido
como um importante espaço de comercialização de um conjunto muito variado de
produtos agroalimentares oriundos da produção camponesa local, cuja relação
comercial ocorre de maneira direta entre agricultores e consumidores. Trata-se de
uma experiência ímpar, sobretudo por se tratar de um departamento marcado pela
concentração e estrangeirização da terra.
Considerações finais
O departamento de Alto Paraná, apesar da histórica presença das grandes
explorações agropecuárias e dos produtores estrangeiros, tem na agricultura cam-
ponesa de origem paraguaia um grupo social numericamente expressivo. Para
estes últimos, sempre foi difícil e tenso viver e conviver nesse contexto, não obstan-
te o pouco aparato estatal para proteger e fomentar os agricultores de base familiar.
E, nas últimas três décadas, com os problemas decorrentes do cultivo do algodão e,
por outro lado, com a ofensiva da soja e dos produtores brasileiros, a situação se
complexifica ainda mais. Além de condicioná-los a busca por outras atividades
agropecuárias geradoras de renda, este contexto também os desafiou a buscarem
novos mercados, diferentemente da maneira com que ocorria com a venda do al-
godão, na qual a relação comercial se deva de maneira direta com a empresa. O
que passa a ser demandado são sistemas de produção e mercados mais autônomos
e próximos dos consumidores, dada a problemática experiência que haviam tido
com o algodão.
A partir de diferentes mobilizações e debates, ganha forma a Central de Pro-
dutores Hortigranjeiros Feirantes de Alto Paraná, que, como visto acima, cresceu e
passou a atender um grande número de agricultores e de consumidores, oferecen-
do uma variada gama de produtos agropecuários oriundos do próprio departa-
mento. Na tríplice fronteira com Brasil (Foz do Iguaçu), Argentina (Puerto Iguazú)
e Paraguai (Ciudad del Este), trata-se da maior feira de agricultores, tanto em nú-
mero de produtores participantes como de compradores. Apesar de ainda apresen-
tar um conjunto de desafios, alguns deles derivados da própria problemática
agrária, é uma experiência que tem potencializado a permanência e o desenvolvi-
mento da agricultura camponesa em Alto Paraná, algo vital em um território tão
hostil para com esse grupo social.
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Transformações agrárias, agricultura camponesa e mercados agroalimentares em Alto
Paraná (Paraguai).
Fecha de recepción: 20/07/2021
Fecha de aceptación: 01/10/2021